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Livro Impresso

A contrarrevolução
Como o governo entrou em guerra contra os próprios cidadãos



Harcourt, Bernard E (Autor), Beserra, Leonardo de Araujo (Editor)

propaganda, censura, perseguição política, governo americano, inteligência americana, segurança, monitoramento, vigilância, segurança nacional, contrarrevolução, insurgências, organizações políticas, revolução


Sinopse

O livro não necessita de qualquer antecipação que frustre o encontro original de cada pessoa com o texto, senão o gesto de uma leitura carinhosa que mapeie, por diálogos abertos, os momentos que despertam aquela arte que Foucault chamava de a “arte da inservidão voluntária, de uma indocibilidade reflexiva”.

Publicado em 2018, o estudo tem como perspectiva central refletir sobre os contornos das estratégias de governo forjada e as táticas de contra insurgência levadas a cabo nos Estados Unidos que, consequentemente, servem de modelo aplicável aos diversos contextos mundiais. De modo direto, desdobra-se sobre um novo paradigma de governo de populações nos EUA, um modelo político da guerra de contra insurgência, lastreado por técnicas militares que comportam três eixos fundamentais: a obtenção total de informações; a erradicação da minoria ativa e a conquista da lealdade da população em geral. Harcourt procura descrever as ondas em que a própria população norte-americana tornou-se alvo das estratégias de contra insurgência de seu governo, resultando em um conjunto prático que estabiliza uma espécie de domínio em torno de uma lógica de guerra sem a presença de uma insurgência, insurreição ou revolução – a dita Contrarrevolução.

É apenas ao fim que Bernard assume expressamente a crítica foucaultiana para “não ser governado desta maneira”. Se há a eterna recorrência de novas formas de servidão, é porque antes novas formas de resistência as acompanham. Somos efeitos da constante batalha em torno da nossa própria subjetividade, dos processos de subjetivações que nos atravessam. As resistências são interligadas às tecnologias de assujeitamento e, além de contraporem as formas tirânicas de subjugação, são intensificadores que se opõem às tentativas de governar através do medo, do terror e da dominação absoluta. Quando uma nova forma de governar, enraizada num paradigma militar de guerra contrarrevolucionária, não cansa de demonstrar seus próprios métodos e estratégias para governar, nos mais diversos quadrantes, a resistência por meio da verdadeira coragem deve ser incansável e contínua. Se falhamos simplesmente em reconhecer o lado sombrio da legalidade, como assevera Bernard, que não menosprezemos o vigor das mobilizações que sabem viver o enigma da insurreição.

A transição histórica da Segunda Guerra Mundial para as lutas anticoloniais e para a Guerra Fria provocou uma mudança fundamental na maneira pela qual Estados Unidos e os Aliados passaram a travar a guerra. Dois novos modelos de guerra surgiram no final dos anos 1940 e 1950, e começaram a reformular a estratégia militar norte-americana: a guerra nuclear e a guerra não convencional. Apesar de estarem em polos opostos quanto aos seus respectivos escopos, ambas foram em grande parte desenvolvidas no centro de controle de estratégia militar dos EUA pela RAND Corporation[1]. Formada em 1948 como resultado da ala de pesquisa da Força Aérea dos EUA, a RAND trabalhou proximamente ao Pentágono e às agências de inteligência para elaborar esses novos paradigmas de guerra.[2]



Num extremo do espectro, os Estados Unidos desenvolveram capacidade e estratégia nucleares, assim como fizeram alguns dos Aliados. A partir disso, emergiu um campo de planejamento militar, que reuniu da teoria dos jogos às análises sistêmicas, bem como produziu uma lógica de guerra em total desacordo para com as estratégias de guerra convencional. Os estrategistas de armamento nuclear inventaram teorias de “retaliação maciça”[3] e de “destruição mútua assegurada”[4] – paradigmas militares drasticamente diferentes das formas anteriores de batalha e muito mais grandiosos, em escala, do que a guerra convencional. A estratégia nuclear norte-americana focou na rivalidade com a União Soviética e conjecturou um conflito global de proporções extraordinárias.



No outro extremo do espectro, um modelo muito diferente emergiu, situado especialmente nas colônias – uma abordagem de operação especial, muito mais cirúrgica, que mirava em pequenas insurgências revolucionárias, as quais eram, em sua maioria, revoltas comunistas. Diversificadamente chamada de guerra “não convencional,” “antiguerrilha” ou “contraguerrilha,” “irregular,” “sublimitada,” “contrarrevolucionária” ou simplesmente “moderna”, esse crescente domínio da estratégia militar prosperou durante as guerras francesas na Indochina e na Argélia, nas guerras britânicas na Malásia e na Palestina, e na guerra norte-americana no Vietnã. Tal domínio também foi fomentado pela RAND Corporation, que foi uma das primeiras a ver o potencial daquilo que o comandante francês Roger Trinquier chamou de “guerra moderna” ou de “versão/perspectiva francesa de contrainsurgência.” Ela forneceu, nas palavras de um de seus principais estudiosos, o historiador Peter Paret, um contrapeso vital "em oposição aos mísseis e à bomba de hidrogênio."[5]



Assim como a estratégia de armas nucleares, o modelo de contrainsurgência surgiu da combinação estratégica entre teoria dos jogos com a teoria dos sistemas. Contudo, diferentemente da estratégia nuclear, que foi primariamente uma resposta à União Soviética, a contrainsurgência se desenvolveu em resposta a outro formidável teórico dos jogos: Mao Tsé-Tung. Em virtude disso, o momento de formação da teoria da contrainsurgência não foi o do confronto nuclear que moldou a Crise dos Mísseis de Cuba, mas a da Guerra Civil Chinesa que levou Mao à vitória em 1949 – especificamente quando Mao transformou as táticas de guerrilha em uma guerra revolucionária que derrubou o regime político. Os métodos e práticas centrais da guerra de contrainsurgência foram aprimorados em resposta às estratégias de Mao e às lutas anticoloniais que se seguiram no sudeste da Ásia, no Oriente Médio e no norte da África, as quais reproduziam o método de Mao.[6] Essas lutas pela independência foram o solo fértil para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da guerra não convencional.



Na virada do século XX, quando George W. Bush declarou “Guerra ao Terrorismo”, em seguida ao 11/9, a guerra de contrainsurreição já estava bem desenvolvida e amadurecida.[7] E com a espetacular ascensão do general norte-americano David Petraeus, a teoria da contrainsurgência passou a dominar a estratégia militar dos EUA. Dada a atual geopolítica do século XXI, a guerra moderna substituiu o paradigma militar das guerras em grandes campos de batalha do século passado.



A guerra de contrainsurgência tem sido uma das inovações mais significativas do período pós-Segunda Guerra Mundial, em termos de nossa política contemporânea. Pensando melhor, foi Mao, e não a URSS, o inimigo mais importante e duradouro. Mao foi quem transformou a guerra em política – ou, mais precisamente, quem mostrou a nós todos como a guerra moderna poderia transformar-se em uma forma de governar. Pós-11/9, talvez somente em retrospectiva é que podemos realmente compreender as completas implicações iniciais da teoria da contrainsurgência.

Metadado adicionado por GLAC edições em 31/07/2023

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Metadados completos:

  • 9786586598148
  • Livro Impresso
  • A contrarrevolução
  • Como o governo entrou em guerra contra os próprios cidadãos
  • 1 ª edição
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  • 1
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  • Harcourt, Bernard E (Autor), Beserra, Leonardo de Araujo (Editor)
  • propaganda, censura, perseguição política, governo americano, inteligência americana, segurança, monitoramento, vigilância, segurança nacional, contrarrevolução, insurgências, organizações políticas, revolução
  • Humanidades
  • Estados Unidos / Século XX (HIS036060), Militar / Guerras Civis (HIS027250), Segurança (Nacional e Internacional) (POL012000), Militar / Forças Terrestres (HIS027300), Militar / Armas (HIS027080), Relações Internacionais / Controle de Armas (POL001000), Propaganda (POL049000), Moderna / Século XX / Guerra Fria (HIS037100), Censura (POL039000), Militar / Estados Unidos (HIS027110)
  • Categoria -
    Guerra e/ou defesa; Terrorismo, luta armada; Ideologias e/ou movimentos políticos; Espionagem e/ou serviços secretos; Questões éticas: censura
    Qualificador -
    Estados Unidos da América, EUA
  • 2021
  • 01/12/2021
  • Português
  • Brasil
  • --
  • Não recomendado para menores de 18 anos
  • --
  • 14 x 21 x 1.5 cm
  • 0.45 kg
  • Brochura
  • 288 páginas
  • R$ 70,00
  • 49019900 - livros, brochuras e impressos semelhantes
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  • 9786586598148
  • 9786586598148
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Metadados adicionados: 31/07/2023
Última alteração: 31/07/2023

Áreas do selo: AutoajudaHumanidadesInfantojuvenilLiteratura estrangeiraLiteratura nacional

editora

A GLAC edições surgiu em 2016, ao experimentar a publicação de uma coletânea de textos da coletiva de arte francesa Claire Fontaine, Em vista de uma prática ready-made, e ao organizar o primeiro seminário do programa de debates Cidadãos, Voltem Pra Casa!. Após certo período, a editora parou suas atividades, retomando apenas no início de 2019 com um projeto de publicações voltado à subversão política do cotidiano e à crítica política da maneira hegemônica de agir e pensar o presente. Seus livros e atividades se voltam para propostas programáticas de caráter autonomista com a tradução de autorxs anônimos, coletivos, artistas e intelectuais, assim como de escritorxs nacionais, a fim de debater um outro radicalismo e, principalmente, com isso a importância de um escrita subjetivo-política que impulsione o leitor a autodeterminação.


nome e logo

GLAC, palavra aglutinante, entalada na boca do estômago. Ela é uma onomatopeia, o som de uma gosma ou meleca em colisão com uma superfície lisa. Por isso, suas letras se apresentam grudadas, inseparáveis. A radicalidade que propõe a GLAC é o que se quer fazer incrustar no leitor. É uma palavra-tiro que emperra, explode em si mesma!

ormato

além de um segmento bem específico, que deflagra sua curadoria acerca da radicalidade política, a GLAC elegeu um formato retangular comprido, 19 X 12 cm, assim como o P&B. acontece que compreendemos que estar contra, qualquer que seja a coisa, imputa o corpo ao trânsito, e para isso pensamos um tamanho de livro que pode ser de bolso, mas não é. que pode ser de mesa, mas não se resume a fazer do leitor um sujeito estático. o que é então esse formato? ele é também preto e branco. não porque simplesmente desejamos fazer livros com custos mais baixos, mas porque a dificuldade de realizar um design que dê conta da demanda de infâmia e da solidariedades necessárias nas lutas, entre uma elegância clássica e uma bagaceira mundana, se torna ainda mais difícil quando não se usufrui de cores. afinal, o que temos para dizer com os textos que editamos assim como com o corpo gráfico que lhes abraçam é: leia com o corpo! e se for o caso, use estes livros como coquetéis molotov. pinte o mundo a sua maneira, pois estes livros o farão desejar destruí-lo.


séries

para isso, a GLAC edições pensou em 8 projetos gráficos que se diferenciam conforme as origens dos livros que edita. são designs voltados para cada situação, cada fundação que encontra. repetimos seus designs modificando as tonalidades dos cinzas a cada livro que editamos de cada uma das 8 frentes que erguermos. pois sabemos que a vida é dotada de muitos e diferentes claros e escuros, muitas vezes indecifráveis, mais opacos do que transparentes, demasiados complexos, difíceis de determinar certeza sobre o que de fato ocorrer. editamos textos escritos por artistas, por coletivos de luta, por anônimxs, por grupos inteiros resumidos a um lema, emblema, expressão, por intelectuais radicais preocupados com fazer proposições contundentes para além de análises profundas da contemporaneidade, por dramaturgxs sensíveis o bastante para nos fazer sentir ler nossas próprias angustias e desejos, por escritorxs que se voltam aos mais degradantes debates sobre a sociedade, por muitos tipos de vozes e gestos indevidamente representados em nosso tempo. elxs se encontram abaixo, descritos ao nosso modo, em séries de livros das melhores subjetividades políticas que pudemos inventar, encontrar, selecionar e tornar públicas.

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